Não se perca.

 O Relato

Para quem vier depois

Se você está lendo isso, é porque ainda não apagaram o blog.
Ou porque eu ainda estou vivo.
Ou porque você encontrou isso em algum arquivo isolado, extraído à força dos cantos esquecidos da rede.

Eu não espero que acreditem em mim.
Mas mesmo assim, eu preciso escrever.
Esse é um documento para quem sobrar. Ou para quem ainda não viu o que eu vi.



O Sol parou.

Mas não em todos os lugares.

Isso é importante:
O mundo não sabe. Ou melhor — o mundo não está autorizado a saber.

A mídia, o governo, e até as redes sociais… todos parecem conspirar para esconder o que está acontecendo aqui.
A versão oficial? “Fenômenos atmosféricos localizados.” “Problemas com satélites meteorológicos.”
Nada de mais.
Nada fora do normal.

Mentiras.

Em algumas cidades, o céu está congelado.
O Sol não se move.
Ele não nasce. Não se põe. Ele apenas está.
Alto. Estático. Incômodo.
Como se o tempo tivesse travado, ou fosse forçado a rodar em câmera lenta, ou pior: voltando.

Eu vivo em uma dessas cidades.
E o que está acontecendo aqui é algo que não pode ser explicado com física ou religião.
Talvez nem com linguagem humana.

Os primeiros dias foram de silêncio.
Depois, de sussurros.
Agora, é o caos está começando a se instaurar.

Pessoas estão adoecendo com feridas antigas. Ossos fraturados há anos voltam a quebrar.
Cicatrizes voltam a sangrar.
Gente começa a sentir dores que já tinham esquecido.

E os mortos



Eles estão voltando.
Não de forma sobrenatural, mas impossível.
Eles aparecem em casa. Em cima da cama. No mesmo lugar onde morreram.
Com medo. Com trauma. Com algo nos olhos que parece ter visto além do limite humano.

Um deles era Marcos.
Trabalhava como entregador de pizza.
Gostava de escrever e era um grande amigo.

Ele morreu no quinto dia após o congelamento solar, aparentemente assassinado por um vizinho que acabou enlouquecendo, ele já foi até enterrado.
Cinco dias depois, voltou.
A pele pálida. As pupilas dilatadas. A voz… emudecida.
Na mochila, havia um caderno.

Dentro dele, registros dos primeiros dias.
Dos primeiros sinais.
Da ignorância ainda inocente de quem não sabia o que estava por vir.

É por isso que eu decidi publicar isso.
Se eu cair, se me levarem, se eu sumir — alguém precisa saber.

Este blog não é um diário. É um arquivo de sobrevivência.
E a seguir está a primeira entrada do Marcos.
Apenas… parte dela.
A história dele parou de ser escrita antes do fim.


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